Clínicas de estética usam equipamento sem registro
Anunciado como o tratamento conjugado mais eficaz para celulite, gordura
localizada e flacidez, o equipamento PowerShape não possui registro na
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
O aparelho começou a ser usado nos últimos dois meses em diversas
clínicas de estética, incluindo as da rede Onodera, que possui 43
unidades em oito Estados do país e veicula um anúncio sobre o tratamento
na TV. Outras clínicas, localizadas em bairros como Jardins e Moema, em
São Paulo, também oferecem o procedimento.
O equipamento combina três tecnologias --radiofrequência, sucção e
laser-- e é usado em tratamentos com oito sessões, em média, ao preço de
R$ 350 a R$ 700 por utilização, dependendo do pacote.
Mary Persia/Folha Imagem |
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Aparelho PowerShape é usado contra celulite, flacidez e gordura localizada em clínicas de estética sem registro na Anvisa |
Para Davi de Lacerda, dermatologista do Hospital das Clínicas da USP, a
falta de registro deve ser considerada, mas não há motivo para pânico.
"Não posso dizer que [o PowerShape] seja ruim só porque ainda não é
aprovado pela Anvisa, mas eu não usaria justamente por essa razão",
afirma. "É um registro de segurança."
A empresa que importa e comercializa o aparelho no Brasil é a LMG Lasers
(Laser Medial Group), registrada como Aliança Trader Comércio,
Importação e Exportação.
De acordo com a Anvisa, a companhia deu entrada na solicitação de
registro em 30 de junho, gerando um número de protocolo, e deveria
aguardar a autorização e sua publicação no "Diário Oficial da União".
Apenas com o protocolo do pedido e sem a liberação da agência, a LMG
passou a vender o equipamento. Ao comercializá-lo para clínicas de
estética há cerca de quatro meses, forneceu o número do pedido e
prometeu que a liberação seria publicada poucos dias depois, o que não
aconteceu.
A obtenção do registro na Anvisa depende da comprovação do atendimento
aos requisitos de segurança e eficácia estabelecidos pela agência --o
que, em alguns casos, compreende a apresentação de resultados de
pesquisa clínica e certificações de conformidade emitidos pelo Inmetro
[Instituto de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial]
relacionadas a segurança elétrica, mecânica, de desempenho e de
compatibilidade eletromagnética do equipamento.
"Caso a empresa esteja comercializando o produto em questão sem que
tenha havido publicação do deferimento [...], estará cometendo infração
sanitária", afirmou em nota a agência, que está analisando o caso na
gerência de propaganda e na área de fiscalização.
As penas previstas pela lei sobre normas sanitárias vão desde
advertência até cancelamento de alvará sanitário, além de multa de R$
2.000 a R$ 1,5 milhão. O artigo 273 do Código Penal Brasileiro também
prevê penalidades a quem comercializar produtos para fins terapêuticos
sem registro no órgão competente.
Editoria de Arte/Folha Imagem | ||
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Camuflagem
De acordo com Davi de Lacerda, do HC, a falta de registro de
equipamentos utilizados em clínicas de estética é um problema comum.
Para fugir da fiscalização, alguns locais chegam a fazer a adulteração
do aparelho. "Alguns são até "camuflados". Colocam a "capa" de um mais
antigo, que já tem aprovação da Anvisa, sobre um equipamento novo e que
ainda não está liberado."
O dermatologista afirma que a dificuldade em conseguir registro é queixa
frequente dos importadores de equipamento, mas não justifica a prática
irregular. "Há criticas, mas essa é a lei e temos de nos ater a ela."
"Qualquer máquina sem regulamentação é passível de oferecer riscos. Não
sabemos o que tem ali", alerta o dermatologista Emerson Lima, que
integra a diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Ele ressalta que os cuidados com tratamentos estéticos vão além do
registro na Anvisa. "É preciso haver um médico especialista, até porque,
se houver alguma complicação pelo uso de uma máquina não aprovada, o
profissional responderá também ao Conselho Federal de Medicina", afirma.
Outro lado
Emil Carlos Salomão, diretor da LMG Laser, diz ter sido informado por
seus representantes legais de que poderia comercializar o PowerShape (de
tecnologia e fabricação coreanas) utilizando somente o número de
protocolo.
"Nossos despachantes e advogados nos prometeram o registro em 90 dias. A empresa é nova e pequena", afirma o diretor.
Segundo Salomão, a venda e publicidade do aparelho serão interrompidas
imediatamente, até que a Anvisa responda à solicitação de registro - o
prazo formal para a primeira manifestação da agência venceu há uma
semana, mas o procedimento interno do órgão continua normalmente.
"Estamos tranquilos com toda a documentação que entregamos. É uma questão de tempo."
Procurada pela reportagem, a clínica Onodera não se manifestou.
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