Entrevista sobre Estrias

Em tempos de grandes invenções tecnológicas que prometem milagres para o corpo feminino, cremes e óleos chegam ao mercado afirmando acabar com as temidas estrias. Elas são marcas, como listras, que aparecem na pele devido à perda da elasticidade no local, acontecem geralmente pelo “efeito sanfona” no qual a mulher engorda e emagrece com freqüência. Geralmente elas aparecem na tonalidade avermelhada e com o tempo e a falta de tratamento eficaz elas ficam brancas, tornado-se assim mais difíceis de desaparecer. Já existem no mercado, tratamentos realmente eficazes para o problema, entretanto um corpo hidratado, uma alimentação saudável e exercícios físicos adequados são ótimas medidas preventivas.

Pensando no bem estar corporal das leitoras, o “Coisas da Mulher” entrevistou Dr. Fredson Costa Serejo, biomédico formado pela UFRJ, para esclarecer as dúvidas mais frequentes das mulheres. 

CDM - O que são estrias? Porque elas aparecem?

FC - As estrias são cicatrizes dérmicas desfigurantes ocasionadas pela distensão da pele. Normalmente aparecem devido ao ganho de peso excessivo (obesidade) ou aumento dos níveis de corticóides como durante a puberdade e gravidez. Apesar de ser uma condição comum da pele raramente causa qualquer problema médico, mas muitas vezes são uma fonte significativa de sofrimento para os atingido. Além disso, podem acontecer em algumas desordens genéticas como na Síndrome de Cushing e em pacientes tratados com esteróides.

CDM - Porque algumas mulheres têm mais tendência a ter e outras não têm esse problema?

FC - Apesar das causas das estrias ainda não serem bem compreendidas, se aceita que fatores de risco multivariados independentes ou associados de estiramento mecânico da pele com fatores genéticos, alterações endócrinas, secreção de relaxina durante a gravidez, variáveis ambientais, idade materna, tolerância à glicose e nutrição permitam que algumas mulheres tenham mais tendência do que outras.

CDM - Existe alguma medida preventiva para que elas não ocorram?

FC - Corpo bem hidratado e uma alimentação saudável aliada a exercícios físicos regulares promovem o bem-estar corporal e a manutenção do peso ideal. Consequentemente previnem uma série de doenças inclusive as estrias.

CDM - E nas gestantes? Há algo que se possa fazer para amenizar as estrias, principalmente na região da barriga?

FC - Durante a gravidez, contudo, existe restrição a uma série de exercícios que devem ser prescritos e supervisionados tanto pelo médico quanto o profissional de educação física.

Quanto à alimentação, o desenvolvimento embrionário acarreta um maior aporte calórico. Cuidados quanto a ingestão excessiva de carboidratos devem ser tomados para que o ganho de peso não seja superior aos 12 kg recomendado durante a gestação. A orientação de uma nutricionista é fundamental nesse período. Alimentos ricos em ferro e folato devem ser consumidos ou suplementados. Alguns trabalhos apontam que alimentos ricos em vitamina C, vitamina E e selênio, por possuírem atividade antioxidante, podem atuar na prevenção de estrias. Quanto a ingestão de proteínas, está deve ser superior a 60mg/dia (equivalente em média a 300g de peito de frango http://www.fcf.usp.br/tabela/) para permitir a produção endógena de colágeno e elastina principais constituintes da pele.

CDM - Óleos, cremes, comprimidos. Algum desses produtos surte efeito para combatê-las?

FC - Infelizmente existe muito marketing das empresas alegando que seus produtos têm eficácia no tratamento de estrias. Contudo, poucos trabalhos científicos têm evidenciado diferenças estatísticas significantes para sua comprovação.

CDM - Ouvi de uma dermatologista que estrias brancas estão velhas e vermelhas são novas. Porque a diferença na pigmentação? Ambas desaparecem com um mesmo tratamento (se houver) ou as "velhas" são mais difíceis de sumir?

FC - A afirmativa é correta. A pigmentação se deve ao fato que quando ocorre a formação das estrias o organismo promove um aumento da vascularização local na tentativa de evitar a progressão da lesão (estria vermelha ou rubia). Quando elas ficam mais velhas diminue a vascularização e ocorre a estabilização do tecido (estria branca ou alba)

Assim, quanto mais cedo (estrias vermelhas) se inicia o tratamento melhor, muitas vezes, a lesão pode ser revertida apenas com microdermoabrasão que promoverá a formação de novo colágeno (J Egypt worn Dermatol Soc. Vol. 5, No.  I, 2008).

Quanto mais antigas (estrias brancas) mais complicado fica. Muitas vezes temos que utilizar várias técnicas diferentes para alcançar bons resultados.

CDM - Afinal existe algum tratamento para acabar de vez com essa "marca"?

FC - Atualmente, somente através de terapias combinadas podemos remover por completo as estrias. E isso só depende da adesão e satisfação do próprio paciente. Podemos utilizar desde a microdermoabração (peeling mecânico ou químico), passando pelo ultra-som e radiofreqüência que diminuem a gordura localizada melhorando a aparência, mas o que de fato tem sido mostrado ser benéfico é aplicação de laser. Em um dos artigos mais recentes sobre o tema (Aesthet Surg J. 2011 May 1;31(4):411-9.) pesquisadores mostraram os benefícios do laser não-ablativo no tratamento de estrias. Outros trabalhos mostram não só o remodelamento de fibras elásticas e de colágeno, mas que a evolução do tratamento pode durar de 6 a 12 meses (Dermatologic Clinics, 2002; 20(1): 67-76).

CDM - Qual o tempo médio para perceber a melhora? São procedimentos doloridos?

FC - Dependendo da técnica adotada pode ser realizado de 6 a 10 sessões, mas o paciente já pode perceber uma melhora logo no começo. Contudo, devemos respeitar os intervalos de tempo para o próprio remodelamento fisiológico do organismo.  O tecido demora no mínimo 21 dias para produzir novas fibras de colágeno. Não podemos fazer a mesma técnica consecutivas vezes assim o ideal é um protocolo que possa intercalar técnicas que permitam otimizar os resultados.

A maioria dos procedimentos não provoca dor. Uma técnica que chama a atenção é a carboxiterapia, onde se aplica CO₂ com a introdução de agulhas e algumas pessoas reclamam... (http://www.youtube.com/watch?v=LUmKs4W0M_M). Apesar de promissora, ainda existem pouquíssimos trabalhos científicos que validem essa técnica.

CDM - Qual o custo desses tratamentos e onde procurá-los?

FC - O custo depende da região e dos tipos de procedimentos utilizados variando de R$ 200 a R$1.000 por sessão. Oriento as pessoas interessadas nesse tipo de tratamento que procurem profissionais capacitados e atualizados em técnicas validadas cientificamente. Lidamos não com preço, mas com valor, pois este depende da percepção que as pessoas têm sobre o produto, do benefício que ela pode obter ao usar o produto. Sua satisfação está em primeiro lugar.

CDM - O que fazer para que as estrias não retornem?

FC - Exercícios, alimentação, hidratação e orientação de profissionais competentes.

CDM - Há algum tipo de alimentos naturais que melhorem a elasticidade da pele?

FC - Alimentação balanceada e saudável. Não existem fórmulas milagrosas ou produtos naturais mágicos. Devemos sempre nos basear naquilo que é fundamentado e testado.

Dr. Fredson Costa Serejo

Biomédico – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Mestre em Biofísica – Universidade Federal do Rio de Janeiro

Doutor em Ciências – Universidade Federal do Rio de Janeiro

Participante da Sociedade Brasileira de Biomedicina Estética

Quem tiver alguma dúvida o Dr. Fredson se coloca a disposição das leitoras pelo blog : www.biomedestetica.blolgspot.com ou no e.mail biomed.estetica@gmail.com